Faz um tempo que não escrevo. Talvez pela instabilidade das emoções em que me encontro. Não que eu esteja estável com elas agora, definitivamente não. Mas como a dor sempre se sobressalta à felicidade, estou aqui, não para dizer com minhas palavras o que eu passo, o que eu vivo, o que eu sinto...
Estou lendo um livro de Clarice Lispector, 'Perto do coração selvagem', e farei aqui uma citação de um pequeno pedaço do texto 'O dia de Joana'. Para ser mais específica, o final desse texto. Talvez seja um pouco como eu me sinto, talvez.
"Era um pouco de febre, sim. Se existisse pecado, ela pecara. Toda a sua vida fora um erro, ela era fútil. Onde estava a mulher da voz? Onde estavam as mulheres apenas fêmeas? E a continuação do que ela iniciara quando criança? Era um pouco de febre. Resultado daqueles dias em que vagava de um lado a outro, repudiando e amando mil vezes as mesmas coisas. Daquelas noites vivendo escuras e silenciosas, as pequenas estrelas piscando no alto. A moça estendida sobre a cama, olho vigilante na penumbra. A cama esbranquiçada nadando na escuridão. O cansaço rastejando no seu corpo, a lucidez fugindo ao polvo. Sonhos esgarçados, inícios de visões. 'Ele' vivendo no outro quarto. E de repente toda a lassidão da espera concentrando-se num movimento nervoso e rápido do corpo, o grito mudo. Frio depois, e sono."
See U :*
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